Conquista de novas vias em Duas Barras, município vizinho a Bom Jardim.
Ago / 2013
A furada das furadas...
Saímos do RJ às 5:00h da manhã do sábado (dia 27/07/2013), rumando para a Duas Barras, município vizinho de Bom Jardim. Mesmo com a insistente chuva que caíra por toda a noite, estávamos confiantes, pois parentes do Tufo que residem em Duas Barras nos passaram informações privilegiadas de que não havia chovido na localidade.
Conforme subíamos a serra, nossas expectativas iam se esvaindo, pois a chuva teimava em nos acompanhar por todo o trajeto. Ao passar por Barra de Santa Teresa, nos deparamos com uma montanha incrível, chamada de Pedra da Santa Teresa, com uma parede impressionantemente grande, vertical e virgem! Após pegarmos algumas informações, passamos por algumas ruas de terra até chegarmos próximo da montanha. Fizemos uma pequena trilha de aproximação que leva a uma bela cachoeira quase na base das paredes e iniciamos os trabalhos do dia, batendo facão na tentativa de chegar à pedra.
Muito esforço depois, conseguimos nosso objetivo! Mas a parede estava parcialmente molhada, ainda mostrando que a chuva havia caído naquela região. Depois do primeiro banho de água fria do dia, retornamos ao carro e prosseguimos viagem para Duas Barras.
Pelo caminho, avistamos e mapeamos inúmeras paredes e montanhas, com um potencial incalculável para novas escaladas! Mas com insistência do Tufo, fomos para o centro de Duas Barras, onde ele nos levou a uma pequena falésia praticamente no centro da cidade. Logo na chegada, fomos recepcionados por um cão raivoso que por pouco não pulou dentro do carro pelas janelas abertas, latindo enfurecidamente! Tanto que na hora de estacionar, o Alex quase derrubou um galinheiro inteiro...
Depois deste episódio, subi um pequeno pasto, passando por alguns arames semelhantes ao arame farpado, mas sem farpas. Segurei um deles para o Alex passar com mais conforto... e só depois, o Tufo falou que uma das moradoras locais havia alertado para os arames eletrificados de segurança! Ufa! Esse devia estar desligado, se não...
Bom, chegamos à base e reparamos que apesar de pequena, esta falésia apresentava algumas linhas interessantes, por vezes com lances negativos e boas fendas. Decidi ir na frente, subindo até um pequeno platô de onde começaríamos a conquista. Como havia uma pequena linha de vegetação seca logo no início, subi com o facão em mãos e comecei a preparar uma passagem... foi quando senti uma forte dor na cabeça, seguida de uma nuvem que zumbia a minha volta. Sim, eu consegui acertar uma casa de marimbondos que estava nesta vegetação!
A primeira reação foi largar o facão e pular para o platô abaixo, onde estavam o Tufo e o Alex. A segunda foi pensar veementemente “Na cara não!”, pois eu seria padrinho num casamento no dia seguinte! Ao chegar no platô, comecei a sentir as múltiplas picadas pela cabeça, braços, ombros e costas, além dos inúmeros golpes que meus dois companheiros me acertavam, para tentar matar os insetos. Acho que nunca apanhei tanto na vida!
Passado mais este susto, decidimos abandonar este setor e rumar para um outro, à beira da estrada que chega na cidade. Pegamos o carro, tomamos mais alguns sustos com o cachorro louco pulando pela janela do carro e saímos da cidade.
Paramos à beira da estrada e começamos mais uma seção de “batida de facão” até chegar à nova base que tínhamos visto da estrada. E como não existe nada que não possa piorar, nos deparamos com uma base completamente molhada, o que nos impossibilitaria de abrir vias naquele setor.
Neste ponto, voltamos para o carro já cansados e desiludidos. Avaliamos as opções e resolvemos pegar a estrada de volta, com uma possível parada na Pedra da Formiga, local onde sabíamos haver vias. Ruim de tudo, poderíamos fazer alguma escaladinha antes de voltar ao RJ, para não perder o dia.
Foi quando, já na estrada de volta, nos deparamos com uma belíssima parede, de grande extensão e aparentemente com dezenas de alternativas de escalada. Resolvemos arriscar mais uma vez e, entrando por algumas ruas de terra, chegamos à Fazenda das Palmeiras, local onde a montanha se localiza. Após breve conversa com o responsável pelas terras, conseguimos livre acesso para a parede principal. Ficamos surpresos com a facilidade de chegar à base: Caminhada por trilha de gado com no máximo 10 minutos até a pedra! Escolhi uma bonita linha e comecei rapidamente a investida, uma vez que já estávamos com horário bem avançado.
Aparentemente seria uma linha simples, de no máximo 4° grau. Ledo engano: logo de início, lances em pura aderência de 6° grau. Foi um verdadeiro espanco! Cada passada que eu dava, as picadas de marimbondo latejavam e o corpo teimava em não responder como de costume. 20 metros e 4 grampos depois, me dei por vencido. Desci e fui para a base me recolher à minha incapacidade temporária de prosseguir.
Tufo e Alex então escolheram outra linha, aparentemente mais simples, à direita. E de fato a linha estava convidativa, com um belo veio de cristais seguindo sempre para a esquerda. Fiquei por um tempo vendo os dois na conquista e consegui recuperar um pouco o ânimo. Voltei então à minha linha e pouco a pouco fui conquistando os lances em auto segurança. Mais quatro grampos e consegui chegar a um bom platô onde estabeleci a P1. Ufa!
Neste ponto, Tufo e Alex decidiram seguir o veio de cristal sempre em diagonal para a esquerda, chegando até o ponto em que eu estava. Ponderamos sobre nossa situação, com o sol já baixando rapidamente e bateu uma enorme vontade de voltar.
Foi quando resolvi fazer um último esforço, afinal, esta seria minha conquista de número 150 e eu estava decidido a voltar para casa com ela “no bolso”... comecei a escalar rápido, horas batendo grampos, horas fazendo proteções em meros buracos de Cliff (isso mesmo... usei clifs de buraco como proteção fixa para ganhar tempo!) e consegui progredir mais 50 metros, até a parede perder a verticalidade. Deste ponto em diante, mais 30 metros “burocráticos” de 3°sup até a barreira de vegetação que leva ao cume.
Descemos ao pôr do sol, realizados por mais uma via e uma variante conquistadas, numa parede alucinante, até então completamente virgem! No balanço geral, valeu à pena cada pingo de ralação das exatas 12 horas de aventura do dia.
As vias ficaram muito, mas muito bonitas! “Pr. Busca Implacável” (5° VI E2 D1 – 120m), com 19 grampos de 1/2 e “Vr. Ou Vai ou Racha” (IVsup E2 – 40m), com 5 grampos de 1/2.
Agradecimentos ao CEB, clube que cedeu parte das proteções utilizadas e para o qual as vias foram doadas. E agradecimentos especiais à dupla Alex e Tufo, parceiros incríveis para estas furadas!
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