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"Fúria Bovina" (4° Vsup E2/E3 - 130m)

Atualizado: 14 de mar. de 2019

Conquista da nova via do Vale dos Frades, em Teresópolis, em um dia cheio de situações inusitadas!

Laura Petroni e João Pedro na primeira parada da "Fúria Bovina"
Laura Petroni e João Pedro na primeira parada da "Fúria Bovina"

Feriadão de finados de 2018 calhou de cair em uma sexta feira. Mas para nosso desespero, o tempo estava chuvoso e havia muita dúvida sobre o que fazer. Por conta do mau tempo, resolvemos não ir muito distante, optando por fazer uma pequena exploração pelo Vale dos Frades.


O Vale dos Frades fica a cerca de 130 km da cidade do Rio de Janeiro, o que representa uma viagem de cerca de duas horas. Atenção ao gasto com o pedágio localizado pouco antes de Magé... são quase 20 reais em cada perna. Ou seja, além da gasolina, há ainda esta "facada".


Talvez a atração mais conhecida no Vale dos Frades seja a cachoeira homônima, facilmente acessada por carro em uma estrada de terra bem conservada (o trajeto, desde a Tijuca / RJ, pode ser visto AQUI). Contudo, este vale concentra uma infinidade de montanhas e paredes com um potencial incrível para o montanhismo, tendo como centro das atenções, o Morro dos Cabritos, um imenso monólito que abriga vias de até 950 metros de extensão.

Laura e João Pedro na caminhada do pasto até a base
Laura e João Pedro na caminhada do pasto até a base

Como nossa pretensão era apenas de explorar a região, além de o tempo estar nublado e com um clima agradável, não nos preocupamos muito com o horário e lá fomos nós em busca de algumas paredes virgens. Mas a frustração foi grande ao descobrirmos que muitas dessas paredes e montanhas encontram-se em terreno privado, o que dificulta bastante o acesso.


Já um pouco desanimados e com o horário avançado, estávamos por desistir de qualquer tentativa de conquista, quando, ao chegar próximos à Fazenda Itatiba (localizada ao final da estrada e distante cerca de 6km da Cachoeira dos Frades), nos deparamos com uma belíssima parede, ainda sem vias de escalada, com um pasto aparentemente bem convidativo para acessar a base.


Por já se passarem das 13h, estávamos receosos de iniciar qualquer coisa, além da preguiça quase falar mais alto. Ênfase no "quase". Poucos minutos depois, já estávamos com as mochilas nas costas, escolhendo o melhor trajeto em meio ao pasto, para chegarmos à parede. Essa tarefa se mostrou muito tranquila e com cerca de 20 minutos, já estávamos a meros 50 metros da rocha.

Pedro Bugim iniciando a conquista, com a segurança de Laura Petroni
Pedro Bugim iniciando a conquista, com a segurança de Laura Petroni

Neste momento, a vegetação aumenta e a progressão foi feita em meio às trilhas de gado, muito bem marcadas, por sinal. Já avistando a base, praticamente dando esta etapa por vencida, ouvi um barulho no meio do mato... inicialmente, achei que fosse uma cobra. Com o aumentar do som, fui ficando cada vez mais preocupado e poucos segundos depois, como que em um passo de mágica, surge uma vaca à minha frente. "Ufa! É só uma vaca!", pensei eu, tolamente. Após um breve momento de hesitação, o animal que mantinha os olhos fixados nos meus, baixou sua cabeça, apontou os chifres e veio ensandecida em minha direção! Mesmo com uma mochila de 25 quilos nas costas, dei um pulo para o lado, digno de recorde olímpico, evitando assim um choque que com certeza seria prejudicial à minha saúde.


Mas o pior foi assistir, imóvel e incapaz de qualquer ação, à vaca desvairada descendo a mata em direção à Laura e ao João! Milésimos de segundo que me gelaram a alma! Em um movimento preciso, com o braço esquerdo, Laura empurrou o João para dentro da vegetação, enquanto que com o direito, escorou a cabeça da vaca, direcionando sua trajetória para o outro lado. Cena de filme... Teria sido sensacional, se não fosse aterrorizante! Demoramos alguns minutos para nos recompor do susto e finalmente atingimos a base, já por volta das 14h.

Pedro Bugim na conquista da primeira enfiada da "Fúria Bovina"
Pedro Bugim na conquista da primeira enfiada da "Fúria Bovina"

Começamos a conquistar por volta das 14:40h e a primeira enfiada da via foi relativamente tranquila, com lances de até 4° grau, predominantemente em aderência, com algumas cristaleiras esporádicas e muito interessantes. Após 60 metros estabeleci a P1 e puxei Laura e João que vieram sem grandes dificuldades.


A enfiada seguinte já seria uma história diferente: a parede nitidamente ganha verticalidade e as agarras somem de vez. Como não sou nenhum amante de aderência (em verdade, sou bem avesso), suei frio para passar alguns pontos, sobretudo na hora de proteger. Parar em um lance de aderência em 5°sup, pegar furadeira, fazer pressão para furar, tirar o pó do buraco, colocar a chapeleta e apertar, representa um esforço sacal, na minha concepção.


Enfim... lance a lance, fui ganhando terreno e exatos 30 metros acima, um ótimo platô anunciava o fim dos lances mais técnicos. Estabeleci a P2 neste ponto e novamente puxei meus companheiros, que desta vez tiveram um pouco mais de dificuldade, porém venceram majestosamente cada metro de escalada.


Os 40 metros finais foram feitos em estilo "The Flash". Entre a saída da P2, conquista da terceira enfiada (com 5 grampos intermediários), estabelecimento da P3 e retorno à P2, foram apenas 20 minutos. Isso porque já passava das 17h e queríamos voltar ao carro ainda com luz.

João Pedro e Laura no rapel da segunda enfiada da "Fúria Bovina"
João Pedro e Laura no rapel da segunda enfiada da "Fúria Bovina"

Para minha surpresa, às 17:30h já estávamos os três na base, com material organizado e prontos para descer a trilha. Neste momento, o último susto do dia: próximo à base, é necessário contornar um grande bloco de pedra, onde percebemos haver um imenso buraco tapado por vegetação. Na ansiedade de voltar ao carro, onde uma cerveja geladíssima me aguardava, esqueci deste fato e em um passo, simplesmente "sumi", não sendo tragado às profundezas apenas porque minha mochila entalou comigo e tudo junto no buraco! Prejuízo: joelho esquerdo com uma enorme escoriação e sangramento. De todo modo, a trilha de volta foi feita rapidamente (sem mais incidentes com a vaca louca, que nos acompanhou visualmente durante toda a descida, a uma distância segura).


A via foi batizada de "Fúria Bovina" por motivos bem óbvios, e é toda protegida por chapeletas rapeláveis Pingo (apesar de não ser recomendável rapelar em chapa única). As paradas são todas duplicadas, com uma chapeleta e um grampo. Sua graduação é relativamente baixa, contando com proteção mais constante nos lances mais complexos (concentrados na curta segunda enfiada).


Independente dos sustos e machucados, este foi um dia perfeito, com a companhia perfeita, em um local perfeito! Isso sem contar que depois desta conquista, ainda rumamos para Três Picos, para passarmos o sábado e o domingo, onde tivemos mais uma dose de aventuras. Só que isso fica para o próximo post.... ;-)

Traçado da via "Fúria Bovina"
Traçado da via "Fúria Bovina"

Croqui da via "Fúria Bovina"
Croqui da via "Fúria Bovina"


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