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28 dias de Equador

Atualizado: 15 de mar. de 2022

Com um bom período de férias, eu e Laura escolhemos o Equador como próximo destino, mesmo sem termos pesquisado sobre a região anteriormente. Não poderíamos ter feito escolha melhor!

Laura Petroni e Pedro Bugim após as conquistas na Chorreras de San Juan, à base do Chimborazo
Laura Petroni e Pedro Bugim após as conquistas na Chorreras de San Juan, à base do Chimborazo

Em vias de regra, minhas férias são divididas em duas, permitindo assim a realização de ao menos, duas viagens mais elaboradas, anualmente. Entretanto, em 2019, como já havia aproveitado o carnaval para levar minha esposa Laura e meu filho João Pedro ao Chile (com intuito de subir o Cerro Plomo, com 5.462m), a decisão foi por tirar uma única folga de mês completo. Com isso, o segundo desafio seria: “Para onde?”.


A escolha não foi fácil, mas eu e Laura nos baseamos em três fatores principais: 1) Preço (passagens, hospedagem, transportes etc); 2) Novidade (deveria ser um país que ambos desconhecíamos); e 3) Possibilidade de realizar conquistas e subir altas montanhas. Juntando tudo isso, após várias tentativas de combinação, acabamos chegando ao Equador, como resultado da equação.

Parte do equipamento levado na expedição: Foram mais de 100Kg ao todo!

Com pouquíssima pesquisa prévia sobre o país, lá fomos nós, no dia 23 de julho de 2019 (exatamente no dia em que eu e Laura comemorávamos 3 anos juntos), para a cidade de Quito, capital do Equador. Tamanha era nosso desconhecimento sobre a região, que lá chegando, estranhamos o frio e o cansaço em excesso... Apenas um dia depois de chegar, fomos descobrir que esta cidade se situa a quase 3 mil metros de altitude!


Nossa hospedagem foi a melhor possível, pois alugamos um ótimo apartamento para o mês inteiro, no bairro La Mariscal (uma das melhores localidades da cidade), pela bagatela de R$830,00. Assim, teríamos uma base fixa, sem necessidade de deslocamento de hostel a hostel, com os mais de 100Kg de equipamentos que levamos, mesmo que não fôssemos usar o apê todos os dias. Foi uma das escolhas mais acertadas da viagem.

Laura Petroni e Pedro Bugim no cume do Ruco Pichincha (4.696m)
Laura Petroni e Pedro Bugim no cume do Ruco Pichincha (4.696m)

Após um dia de compra de mantimentos e pequenos passeios, resolvemos entrar de vez no “modo montanha” e fomos conhecer o vulcão Rucu Pichincha, com 4.698m de altitude, bem próxima ao centro de Quito. Além de um ônibus e um táxi, é necessário pegar um teleférico que nos deixa perto dos 4 mil metros de altitude.


Deste ponto, a trilha de pouco mais de 5 quilômetros começa com pouca inclinação e segue uma aresta bem demarcada. Apesar das bifurcações existentes, a orientação é bem simples. A parte final da trilha passa por intermináveis areais, áreas com boa inclinação e alguns trepa pedra à beira de abismos bem esquisitos, antes de atingir o belo cume. A descida foi feita sob uma fortíssima chuva de granizo, que os fez tremer de frio!

Las Canteras: a única área de escalada no centro metropolitano de Quito
Las Canteras: a única área de escalada no centro metropolitano de Quito

No dia seguinte, fomos conhecer um setor de escaladas dentro da região metropolitana, conhecido como Las Canteras, um conjunto de blocos de rocha vulcânica. Inicialmente pegamos um ônibus até o Bairro de San Martin e de lá, caminhada com um quilômetro e meio até a pedra. Apesar de ser um setor pequeno, trata-se de um dos primeiros lugares do país a receber a prática de escalada em rocha, onde fizemos cinco vias, sendo quatro com proteções fixas e uma em móvel, todas com graduação entre 5º e 7b e cerca de 15 metros.


No dia 28, juntamos boa parte do equipamento e, de táxi, fomos até Lloa, uma pequena cidade a 20 quilômetros de Quito. De lá, contratamos um transporte 4x4 que nos levou por mais 15 quilômetros até os 4.550m de altitude do Refúgio Guagua Pichincha, uma instalação para os pesquisadores que atuam na região, e que não é aberta ao público, homônima ao vulcão de 4.794m, onde está instalada. Desde o refúgio, subimos aos 4.600m, onde armamos acampamento em uma pequena gruta.

Pedro Bugim na conquista da "Ruta de Los Brasileños" (D1 5° VIIb E2 - 80m - Mista), no Vulcão Guagua Pichincha, a mais de 4.600m de altitude
Pedro Bugim na conquista da "Ruta de Los Brasileños" (D1 5° VIIb E2 - 80m - Mista), no Vulcão Guagua Pichincha, a mais de 4.600m de altitude

Apesar do forte frio e vento, decidimos começar uma conquista no mesmo dia, a poucos metros de onde acampamos, em uma parede gigantesca e muito impressionante, na face Oeste da montanha, que contava com apenas 7 vias, sendo que delas, apenas uma tinha 60 metros, enquanto que as outras eram todas de 25 metros ou menor.


Neste dia, as condições estavam tão adversas (frio, vento e pouca visibilidade), o peso era tamanho (material de guia, furadeira, material móvel, marreta, brocas, chapeletas, estribos etc) e a roupa tão desconfortável para escalar (grande casaco e calça de pluma de ganso), que o pregresso foi lento, sobretudo nos lances mais complexos, graduados em até sétimo grau. Perseveramos até chegar a um bonito platô, totalizando 50 metros de parede conquistados, dando os trabalhos do dia por encerrados.

Laura Petroni chegando aos 4.794m de altitude do vulcão Guagua Pichincha
Laura Petroni chegando aos 4.794m de altitude do vulcão Guagua Pichincha

No dia 29, apesar do dia ter amanhecido com sol, o frio era tão intenso e a parede estava tão gelada, que decidimos tentar o cume do Guagua Pichincha, com 4.794m de altitude, antes de terminarmos nossa conquista. Começamos a caminhada por volta das 8h da manhã, seguindo uma trilha muito bem marcada, contornando a área rochosa da montanha até chegarmos à bem definida crista Sul, que nada mais é do que a borda do vulcão. É bem impressionante caminhar olhando as fumarolas que saem da cratera, já que o Guagua é o segundo vulcão mais ativo dos Andes Equatorianos. Após alcançar o cume por volta das 10h da manhã, descemos rapidamente para voltarmos à parede.

Laura Petroni descendo da "Ruta de Los Brasileños" (D1 5° VIIb E2 - 80m - Mista)
Laura Petroni descendo da "Ruta de Los Brasileños" (D1 5° VIIb E2 - 80m - Mista)

Do ponto em que havíamos parado, a via muda de configuração, deixando para trás os lances em agarras, evoluindo para um belíssimo diedro feito inteiramente em móvel (peças médias e grandes), com uma passada aérea espetacular na sua virada final, sendo este o crux da via. Após mais 4 horas de “trabalho”, finalmente estava pronta a "Ruta de Los Brasileños” (D1 5° VIIb E2 - 80m - Mista), sendo a primeira enfiada feita em proteções fixas e a segunda, em proteção móvel. Além de ser uma das vias mais difíceis da parede, foi também a mais longa, marcando a primeira conquista feita por brasileiros no país.

Após dois dias de descanso e compra de mantimentos em Quito, no último dia de julho, pegamos ônibus em direção ao Sul, em uma viagem de 170 Km feitos em cerca de 3 horas e meia, com destino à Laguna Quilotoa. Esta lagoa de 250m de profundidade localiza-se na cratera de um enorme vulcão que teve sua última erupção há 600 anos. Apesar de bastante turístico, este local possui beleza única e conta com algumas possibilidades aos montanhistas de plantão.

Laura Petroni na trilha do contorno à borda superior da Laguna Quilotoa

Passamos a noite em um hostel no local e, no dia seguinte, começamos a caminhar às 9:30h, na intenção de darmos a volta na borda superior da cratera. Trata-se de uma caminhada de 12 quilômetros, com várias subidas e descidas, sempre a uma altitude média de 3.800m, com seu ponto culminante no chamado "Monte Juyentude", a 3.930m. Completamos o trajeto às 2:30h da tarde, com 5 horas de atividade e no mesmo dia, retornamos à Quito.


Em Quito, reservamos um dia para “turistar”, indo conhecer a Ciudad de La Mitad del Mundo, a cerca de 30Km de onde estávamos hospedados, numa viagem de uma hora de ônibus. Esta cidade é famosa por estar no ponto onde a linha do equador atravessa o país, permitindo aos visitantes irem do hemisfério sul ao hemisfério norte em apenas um passo. Possui um monumento inicialmente construído em 1936 e substituído pelo atual, em 1982.


Já no dia 3, voltamos ao “modo montanha”, com a opção “ralação” selecionada. Após ir de táxi ao terminal rodoviário de Quito, pegamos ônibus para Machachi. Após quase 50 quilômetros, saltamos nesta cidade e pegamos um novo ônibus para a cidade de El Chaupi, com mais 16 quilômetros de estrada. Em El Chaupi, contratamos um transporte 4x4, para mais 9 quilômetros de estrada de terra, nos levando até a entrada da trilha das montanhas conhecidas como “Ilinizas Sul e Norte”, onde finalmente chegamos por volta de meio dia e meia.

Laura Petroni na subida ao Refúgio Nuevos Horizontes (4.700m), com o Iliniza Norte (5.126m) ao fundo

A trilha de 5 quilômetros inicia aos 3.900m de altitude e é muito bem marcada em todo seu percurso, com algumas bifurcações, mas bem simples de se orientar. O caminho começa com pouco aclive e vai ganhando verticalidade conforme os quilômetros passam. Da metade para a frente, a trilha segue por uma aresta bem aprumada, em terreno irregular e decomposto, dificultando a subida, sobretudo para nós, que estávamos com muito peso nas costas. Laura carregava cerva de 15 quilos, e eu, 30.


Chegamos ao refúgio Nuevos Horizontes, o mais antigo do país, aos 4.700m às 5:30h da tarde, com o tempo bem feio e um forte vendaval. No dia 4, dia que seria destinado ao ataque ao cume do Iliniza Sul, nosso objetivo principal na região, o dia mostrou-se completamente fechado, com fortes ventos e muita neve caindo. Optamos por esperar alguma melhora, fato que não aconteceu. Víamos os grupos tentando atacar o cume do Iliniza Norte, mas inevitavelmente, pouco tempo depois, todos voltavam sem sucesso. Acabamos abortando a missão e passamos mais uma noite no refúgio, na esperança do tempo melhorar.

Laura Petroni no ataque ao cume do Iliniza Norte (5.126m)

Dia 5 amanheceu com pouquíssimo vento, embora o frio estivesse absurdo. Tomamos café e deixamos o dia clarear para ter noção do que teríamos pela frente. Vimos o Iliniza Norte coberto de neve e gelo, fato muito incomum. A decisão foi instantânea: deixaríamos de tentar o Iliniza Sul, por conta das péssimas condições para tentar seu vizinho, que possui uma rota menos técnica e arriscada.


Começamos a caminhar às 7h da manhã e o início foi bem tranquilo. Em pouco tempo, encostamos nos grupos que haviam saído mais cedo. Percebi que eles estavam progredindo lentamente, por conta da grande quantidade de gelo na rota normal. Resolvi então fazer uma vertente pelo flanco Sul, em terreno vertical e bem instável, mas livre do gelo. O desafio foi conseguir voltar à crista Sudeste, por onde passa a rota normal. Com cuidado, conseguimos voltar em um ponto já bem alto. Deste ponto em diante, tivemos que encaram terreno com bastante gelo e pedras soltas, por vezes ouvindo pequenas avalanches de arrepiar! Chegamos aos 5.126m de altitude do cume às 10:45h, com pouco menos de 4 horas de subida. O retorno à civilização foi feito no mesmo dia.

Pedro Bugim e Laura Petroni no cume do Iliniza Norte (5.126m)
Pedro Bugim e Laura Petroni no cume do Iliniza Norte (5.126m)

No dia 7 de agosto, fizemos mais uma viagem cansativa, saindo de Quito com um táxi para a rodoviária e um ônibus até Machachi. De Machachi, mais um ônibus para El Chaupi. Nesta cidade, contratamos um 4x4 que nos levou até a entrada da trilha do Vulcão Cotopaxi, montanha com 5.897m de altitude, sendo a segunda montanha mais alta do Equador, nosso próximo alvo. Neste primeiro dia, fomos até o refúgio José Ribas, a 4.850m de altitude. A trilha é curta, embora muito cansativa. Levamos cerca de uma hora, com todo o peso que carregávamos e com o vento insano que soprava.

O vulcão Cotopaxi, segunda maior montanha do Equador, com 5.897m de altitude
O vulcão Cotopaxi, segunda maior montanha do Equador, com 5.897m de altitude

Dormimos cedo e, no dia do ataque ao cume, acordamos por volta da meia noite, tomamos café, nos arrumamos e saímos do refúgio faltando quinze minutos para uma da manhã. Nosso objetivo seria subir pela rota normal, que inicia em uma trilha em zigue zague até os 5.200m, onde inicia o glaciar. Próximo a este ponto, por volta das duas e meia da manhã, Laurinha não estava muito bem e preferiu voltar. Desci com ela até o refúgio e, ainda me sentindo bem, mesmo já tendo subido 400 metros verticais e descido, optei por tentar mais uma vez.


Só que dessa vez, como estava sozinho, decidi encarar a via “Rompecorazones”, que segue mais à direita, pegando o glaciar muito mais embaixo e em terreno mais vertical e desafiador. Dos mil metros de desnível deste dia, 800 são feitos em neve e gelo com boa verticalidade, com quase nenhum ponto de descanso e cheio de gretas e seracs, além de ser uma rota que não recebia repetições há meses. Ou seja, pura “diversão”, conforme o nome da rota já diz!

Pedro Bugim subindo o Cotopaxi em solo, pela rota "Rompecorazones", ainda com o "Jack" na cabeça...
Pedro Bugim subindo o Cotopaxi em solo, pela rota "Rompecorazones", ainda com o "Jack" na cabeça...

De fato, o trajeto foi penoso, com terreno muito irregular e traiçoeiro. O vento estava tão forte, que meu gorro, carinhosamente apelidado de “Jack”, foi violentamente arremessado no abismo, sem chances de resgate, dando fim a uma parceria de mais 10 anos de altas montanhas... Mesmo assim, o cume de foi alcançado às 8:45h da manhã. A descida foi feita pela rota normal e levou menos de duas horas do cume ao refúgio. Lá chegando, arrumamos nossos equipamentos e voltamos à Quito.

Pedro Bugim aos 5.897m, no cume do vulcão Cotopaxi
Pedro Bugim aos 5.897m, no cume do vulcão Cotopaxi

No dia 10 de agosto, acordamos cedo e pegamos ônibus de Quito para Tulcán, uma cidade ao norte do país, na fronteira com a Colômbia, famosa pelo cemitério com várias esculturas na vegetação. A viagem teve duração de 5 horas, com 250Km de distância. Após visitar o cemitério de Tulcán, alugamos um transporte para cruzarmos a fronteira e chegamos à Ipiales, uma cidade bem ao sul da Colômbia. Por lá, a intenção era visitar o famoso Santuário de Las Lajas, uma impressionante construção datada de 1899, sobre um enorme cânion. No mesmo dia, retornamos à Tulcán, onde dormimos em um hotel.


No dia 11, resolvemos tentar o Vulcão Chiles, montanha com 4.723m de altitude, localizada exatamente na fronteira entre o Equador e a Colôbia. De Tulcán para a entrada da trilha do Vulcão Chiles, primeiramente, pegamos um ônibus para vencer os 20 quilômetros até Tufiño, uma pequena cidade na fronteira, aos pés do vulcão. Por lá, contratamos um transporte que nos levou até a entrada da trilha, percorrendo mais 16 quilômetros e subindo aos 4.000m.

O belíssimo santuário de Las Lajas, Ipiales - Colômbia
O belíssimo santuário de Las Lajas, Ipiales - Colômbia

Deste ponto, a trilha começa muito bem definida, em terreno com pouca inclinação e muito agradável de caminhar. Na sequência, sobe-se até uma crista bem definida, mas em terreno bem irregular. E aos poucos, a verticalidade aumenta consideravelmente, passando por vários trechos expostos, com pedras soltas e abismos assustadores, fazendo com que os três quilômetros de extensão pareçam muito mais, ainda mais, com o péssimo tempo que pegamos. A chuva não parava de cair, virando neve em determinado ponto. A visibilidade era de cerca de 20 a 30 metros, complicando bastante a orientação.


Por volta das três horas da tarde, mesmo com as condições adversas, chegamos ao ponto culminante, completamente congelados! Em menos de três minutos, tiramos algumas poucas fotos e rapidamente iniciamos nossa descida, também dificultada pelo tempo. Chegamos exaustos no veículo que nos aguardava, talvez até mais do que nas outras montanhas de maior altitude que já havíamos feito.

Pedro Bugim e Laura Petroni no cume do vulcão Chiles (4.723m), na fronteira com a Colômbia... tempo trevas!
Pedro Bugim e Laura Petroni no cume do vulcão Chiles (4.723m), na fronteira com a Colômbia... tempo trevas!

Para o resto das férias, tomamos a nossa segunda decisão mais acertada da viagem: alugamos um carro. Infelizmente, os valores para tal são tão exorbitantes, que não conseguimos fazer isso antes. Entretanto, para esta última semana, foi essencial.


No dia 12, pegamos a estrada, em direção à montanha mais alta do país, o Chimborazo. Mas nosso objetivo ainda não era subi-la, mas sim, conhecer uma região conhecida como Acantilado, ou Las Chorreras de San Juan, uma das áreas mais famosas e espetaculares de escalada do Equador, com centenas de vias esportivas, praticamente na base do Chimborazo, a quase 4 mil metros de altitude, ainda com muito potencial para novas vias.

Laura Petroni nas Chorreras de San Juan, com o Chimborazo ao fundo
Laura Petroni nas Chorreras de San Juan, com o Chimborazo ao fundo

A viagem de carro com 210 Km, foi feita em cansativas 4 horas, mas por anoitecer, acabamos não encontrando o local certo e dormimos no carro, em um recuo na beira da estrada. No dia seguinte, seguimos caminho e percebemos que estávamos a poucos minutos do local correto, mas chegando lá, um forte e geladíssimo vento nos recepcionou. Vencemos a preguiça e por volta do meio dia, pegamos a trilha.

Pedro Bugim na conquista da "Pilsener" (IV sup E2 - 23m)

Basicamente, o Acantilado é um cânion belíssimo, com escaladas por todos os lados, mesclando vias com proteção fixa e móvel. Caminhamos bastante pelo cânion até chegar a uma parede onde ainda não existiam vias. Mas lá chegando, a chuva começou a cair. Sem pestanejar, continuei me equipamento e na segurança da Laura, mesmo com a fina chuva e o forte vento, conquistei duas lindas vias: a "Pilsener" (IVsup E2 - 23m) e a "Club" (VI E2 - 28m), ambas protegidas com chapeletas rapeláveis, parada dupla no topo e com nomes que fazem referência às principais marcas de cerveja do país. Com o aumento da chuva, demos os trabalhos por encerrados, voltamos ao carro e pegamos a estrada uma vez mais.

O próximo destino deveria ter sido o Chimborazo. Entretanto, o tempo mudou com uma ferocidade, que resolvemos alterar um pouco o planejamento. Seguimos estrada por mais 90 quilômetros e duas horas, chegando à Baños, uma cidade bastante turística, na borda da Amazônia Equatoriana, a meros 1800 metros de altitude. Baños possui uma enorme gama de atividades, desde bons restaurantes até tirolesas radicais, sobre abismos de centenas de metros.


Eu e Laura nos limitamos a conhecer alguns zoológicos destinados a tratar de animais recuperados do tráfico, um dos grandes problemas do país. Fomos também ao local conhecido como “Pailón del Diablo”, uma impressionante cachoeira, na qual pode-se chegar perto o suficiente para sentir a pressão do deslocamento de ar causado pela queda de água... Não há palavras para descrever esta energia!

Mais uma noite confortável no carro!
Mais uma noite confortável no carro!

No dia 15, pegamos a estrada novamente e fomos em direção ao Chimborazo. Com o horário avançado, não conseguimos entrar no parque e mais uma vez, dormimos no carro, com o tempo bem estranho e um pouco de neve caindo. No dia 16, acordamos cedo e fomos ao refúgio Carrel, a 4.850m de altitude onde começa a subida ao Chimborazo.


A trilha inicia por um longo areal que cruza lateralmente a montanha, chegando à crista leste da montanha. A crista possui lances bem irregulares em alguns pontos, até atingir o campo 1, a 5.300m de altitude. Mesmo com as mochilas bem pesadas, fizemos este percurso em cerca de 3 horas e meia, chegando ao nosso destino por volta das 4 horas da tarde.

Laura Petroni na subida ao campo "arista" do Chimborazo, a 5.300m de altitude
Laura Petroni na subida ao campo "arista" do Chimborazo, a 5.300m de altitude

Durante a noite, o tempo piorou consideravelmente, com um vento ensurdecedor e muita neve caindo. Mesmo com essas condições, acordei por volta da meia noite e lentamente me equipei, começando a caminhar por volta de uma da manhã. Laura optou por me esperar na barraca, haja vista as condições encontradas.

Campo "arista", a 5.300m - Chimborazo
Campo "arista", a 5.300m - Chimborazo

O início já se mostrou desafiador, com alguns lances em gelo duro, com um pouco de escalada técnica e grande risco de avalanches. Aos 5.600m, há um obstáculo em barro e pedras soltas que foi particularmente desafiador. A partir dos 5.700m, a rota pega de vez o glaciar, subindo sempre em terreno com boa verticalidade até atingir o cume, a 6.268m de altitude.

Pedro Bugim aos 6.050m de altitude, na subia do Chimborazo... tempo inclemente!
Pedro Bugim aos 6.050m de altitude, na subia do Chimborazo... tempo inclemente!

Mas o tempo estar tão ruim, a visibilidade tão baixa, as condições tão adversas, além de eu estar sozinho e sem segurança, que reconsiderei a tentativa de cume. Dei meia volta perto das 5h da manhã, pouco após ter passado dos 6 mil metros. Foi a melhor decisão, pois o tempo continuou inclemente. Pouco depois, conversando com guias locais na trilha de volta, soube que nenhuma tentativa de cume havia tido sucesso nos últimos dias, fato que comprovava a ferocidade do clima na época.


Como nosso tempo de férias estava no final, não tivemos outra chance de tentar o cume, mas retornamos extremamente felizes por tudo que havíamos conquistado nesta viagem, por todos os lugares maravilhosos que conhecemos e por toda experiência acumulada. Certeza que retornaremos!

Laura Petroni descendo do Chimborazo
Laura Petroni descendo do Chimborazo

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