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Conquista da "Arranha Gato" (4° Vsup E1/E2 D1 - 205m) em Pirapetinga / MG

Já ouviram falar de Pirapetinga? E que lá existem paredes incríveis? Pois é... eu também não, até o final de semana passado!

Pedro Bugim e Laura Petroni na conquista da "Arranha Gato" (4° V E1/E2 D1 - 205m) (Foto: Patricia Manzi)
Pedro Bugim e Laura Petroni na conquista da "Arranha Gato" (4° V E1/E2 D1 - 205m) (Foto: Patricia Manzi)

Tudo começou com um convite do amigo Julio Mello, quem havia conquistado, em conjunto da Patricia Manzi, a (até então) única via da cidade. Em 2016, o casal conquistou a via "Velho China" (3° IIIsup E3 D2 - 475m), em homenagem ao falecido pai do Julio, natural de Pirapetinga. Pelas informações de Julio, as paredes eram sensacionais e a via que ele havia conquistado, possuía uma trilha de meros 5 minutos até a base. Aceitei o convite de primeira, mesmo sem saber absolutamente nada sobre o local, quiçá efetivamente onde se localizava!


A data selecionada foi o final de semana dos dias 28 e 29 de setembro, meticulosamente escolhido para aproveitarmos a comemoração do aniversário de ambos, já que Julio faz no dia 27 e eu, no dia 30 de setembro. Nada mal passar o aniversário em um lugar novo, com bons amigos e conquistando vias de escalada.

Cervejinha na praça central de Pirapetinga, para comemorar os aniversários
Cervejinha na praça central de Pirapetinga, para comemorar os aniversários

Julio e Patricia viajaram logo na sexta, dia 27, pela manhã, chegando ao local em tempo hábil de fazerem uma primeira investida ainda no mesmo dia. Eu e Laura fomos à noite. Saímos do Rio de janeiro pouco após as 19h e, depois de quase 4 horas de viagem, em um trajeto de 230Km, chegamos ao nosso destino, o Hotel Pirapetinga Palace.


Após o checkin no hotel, ainda tivemos forças para tomar uma cervejinha na praça principal da cidade, onde encontramos o casal. Eu e Laura ouvimos atônitos a odisseia que eles passaram durante o dia, varando mato e batendo facão para tentarem acessar a base de uma interessante parede na extrema direita da formação conhecida como "Pedra Bonita". Foram horas de ralação, cortes e suor... sem efetivamente alcançarem seu destino. De todo modo, planejamos seguir para o mesmo local no dia seguinte, abordando uma aproximação diferente.

A cadeia de montanhas conhecida como "Pedra Bonita". à esquerda, onde há a via "Velho China". À direita, onde conquistamos as novas vias (Foto: Patricia Manzi)
A cadeia de montanhas conhecida como "Pedra Bonita". à esquerda, onde há a via "Velho China". À direita, onde conquistamos as novas vias (Foto: Patricia Manzi)

Acordamos cedo no dia 28 e após um delicioso café da manhã, rumamos para a fazenda do Sr. André, local onde se encontra a porção inicial da cadeia montanhosa da "Pedra Bonita". Esta se estende por quilômetros, apresentando imponentes paredes, praticamente virgens, a não ser pela única via conquistada pelo Julio em 2016.


Nosso alvo era uma parede "pequena", localizada mais à direita da formação, com um cume bem definido e paredes imponentes. Apesar de possuir mais de 200 metros verticais de parede, ela parece pequena frente às vizinhas, com mais de 400 metros. O problema é que o acesso à base acaba sendo relativamente extenso.

Julio Mello, Patricia Manzi e Laura Petroni nos costões de acesso à base
Julio Mello, Patricia Manzi e Laura Petroni nos costões de acesso à base

Iniciamos a caminhada pela propriedade do Sr. Thiago, quem nos recebeu muito bem e nos informou haver uma trilha incipiente que levaria até próximo a base. Iniciamos por um pasto muito tranquilo e de grama baixa, nos fazendo ganhar terreno rapidamente, apesar das mochilas com até 25Kg de equipamento. Ao final do pasto, cruzamos uma cerca de arame farpado e neste ponto, iniciou-se nosso calvário...


Foram exatas 2 horas e meia de ralação, tentando passar a vegetação até alcançarmos um costão que levaria ao início das escaladas. Apesar de ser um trecho curto, o mesmo estava repleto de "arranha gatos" e outras plantas de difícil transposição. Com muito custo, chegamos à base da parede por volta das 11:30h, mas tivemos a sorte do tempo estar do nosso lado. Apesar do dia estar relativamente quente, nuvens carregadas passavam pelo céu nos dando bons momentos de sombra, além de um pouco de vento.

Laura Petroni na segunda enfiada da "Arranha Gato" (4° Vsup E1/E2 D1 - 205m)
Laura Petroni na segunda enfiada da "Arranha Gato" (4° Vsup E1/E2 D1 - 205m)

Rapidamente, as duplas (Julio e Patricia / Pedro e Laura) escolheram suas linhas e em pouco tempo, já estávamos todos pendurados. Julio selecionou uma linha para a esquerda, com visíveis diedros e fendas. Já eu, selecionei um trajeto mais central na parede, desprovido de artifícios para proteção móvel.


A primeira enfiada foi bem simples, em lances de no máximo segundo grau, para atingir um enorme platô e enfim, a rampa que leva à parede vertical. Deste ponto em diante, o progresso foi lento, pois os lances foram ficando cada vez mais complexos, além de possuírem uma grande constância, sem aliviar muito, nos 50 seus metros de extensão. Lances muito interessantes, hora em agarras generosas, horas em micro agarras, sempre com a desconfiança de qual delas iria quebrar sobre meus pés.

Julio Mello na primeira enfiada da "Jardins do Coração" (4° V E2/E3 D1 - 170m - Mista)
Julio Mello na primeira enfiada da "Jardins do Coração" (4° V E2/E3 D1 - 170m - Mista)

Laura, passando por um dia particularmente sonolento, me impressionou com a velocidade e tranquilidade que chegou à P2! Deste ponto, a parede continua bem vertical, mas sem grandes visões da sua parte superior, por conta de uma barriga no meio do caminho. Isso nos fez duvidar da possibilidade de fechar a via no mesmo dia, pois nossos corpos já estavam moídos da abertura de trilha, do calor e da conquista dos lances delicados em sequência.


Mesmo assim, iniciei a conquista da terceira enfiada com empolgação, pois de fato, os lances estavam bem interessantes. Para minha grata surpresa, após subir mais 30 metros e vencer a barriga, a parede se apresentou por completo, indicando terreno mais tranquilo até o cume.

Laura Petroni e Pedro Bugim no cume da Pedra Bonita de Pirapetinga / MG
Laura Petroni e Pedro Bugim no cume da Pedra Bonita de Pirapetinga / MG

Estabelecida a P3, 60 metros acima da P2, puxei Laura, que veio tão veloz quanto na enfiada anterior. Assim, toquei a última enfiada para o cume, mas mais 45 metros. Desta vez, os lances foram "burocráticos", não excedendo o terceiro grau, fazendo com que esta etapa tenha sido cumprida em poucos minutos. Cume!!!


E que cume! Desprovido de vegetação, formado por uma enorme laje de pedra, o cume possui uma visão de 360° da região e representa um ótimo ponto de descanso antes da descida. A melhor parte é que pode-se descer por trilha, seguindo a crista em direção ao óbvio colo entre este cume e o cume vizinho. Infelizmente, como havíamos deixamos vários equipamentos na parede, precisamos descer de rapel e voltar pela trilha aberta horas antes.


Quando começamos a descer, Julio e Patricia estavam quase no final da via deles, rendendo boas fotos laterais.

Patricia Manzi na segurança do Julio Mello, terceira enfiada da "Jardins do Coração" (4° V E2/E3 D1 - 170m - Mista)
Patricia Manzi na segurança do Julio Mello, terceira enfiada da "Jardins do Coração" (4° V E2/E3 D1 - 170m - Mista)

Nossa via foi nomeada por conta das horas gastas com a vegetação traiçoeira pela qual tivemos que abrir passagem: "Arranha Gato" (4° Vsup E1/E2 D1 - 205m). Trata-se de uma via muito interessante, predominantemente em agarras. Sua proteção nos lances fáceis é espaçada, mas nos lances mais complexos, as proteções são bem próximas e conferem boa tranquilidade ao guia. As paradas são duplicadas e todas as chapeletas usadas na conquista são do modelo PinGo, da Bonier, ou seja, rapeláveis. O rapel pode ser feito com duas cordas de 60m (de parada dupla em parada dupla) ou com corda única, necessitando parar em chapas simples. Mas o mais recomendável é descer pela trilha (mais rápido, prático e seguro). Caso a opção seja o rapel, tome cuidado com as pedras soltas ao longo da via, sobretudo na última enfiada.


A via do Julio e Patricia foi nomeada "Jardins do Coração" (4° V E2/E3 D1 - 170m - Mista), em homenagem à mãe do Julio. Possui alguns lances em móvel na primeira enfiada e seu início fica à esquerda da primeira chapeleta da "Arranha Gato", em um enorme platô. O rapel obrigatoriamente deve ser feito com duas cordas de 60m. Ou pode-se descer pela "Arranha Gato", ou, preferencialmente, por trilha.

Por fim, acabamos passando um domingo tranquilo na cidade, em busca de novas paredes para as próximas investidas. E nos surpreendemos bastante com as possibilidades! Passei de alguém que nunca tinha ouvido falar desta região, para um assíduo frequentador! ;-)


Agradecimentos ao casal Julio e Patricia, pelo final de semana maravilhoso e pela parceria incrível! E agradecimentos à Laura, por mais uma conquista sensacional e por fazer meu aniversário perfeito!


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