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"Enzima Desnaturada" (IVsup E1 - 50m): nova via no Contraforte do Perdido do Andaraí

Apesar do forte calor, do pouco tempo que dispúnhamos e do cansaço proveniente de uma semana particularmente atribulada, conseguimos conquistar uma bela via, criando uma nova opção neste setor.

Laura Petroni na conquista da "Enzima Desnaturada", com Liane Leobons ao lado, na "12 de Fevereiro"
Laura Petroni na conquista da "Enzima Desnaturada", com Liane Leobons ao lado, na "12 de Fevereiro"

O Contraforte do Perdido do Andaraí consiste em uma bonita parede, com sua face principal virada para a face Norte. Apesar de ser uma das faces mais quentes para quem escalada no Rio de Janeiro, o local se caracteriza pela ótima sombra na parte da tarde, por conta da montanha principal à sua frente.


A primeira via deste setor, a "Chaminé imprensa" data de 1955. Mas o local viria a ser mais amplamente visitado após o ano de 1969, quando da conquista do "Paredão 12 de Fevereiro", via ainda hoje muito procurada, por ser uma linha de graduação tranquila, bem protegida e com acesso simplório. Depois disso, a parede ainda ganhou algumas outras linhas mais expostas, nas décadas de 80 e 90, até que, em 2014, recebeu a via "Roberto Schmidt", imediatamente à esquerda da "12 de Fevereiro". Tratava-se da segunda linha na parede com proteções no padrão E1 e baixa graduação, atraindo ainda mais escaladores para a área.


Como frequentador assíduo das vias do Grajaú, há anos eu já namorava uma linha imediatamente à direita da "12 de Fevereiro". Por acaso do destino, toda vez que eu me propunha a tentar a conquista, algo acontecia, impedindo o feito. Na maioria das investidas, estive com todo equipamento na base, mas encontrava a parede "babada", com alguns lances úmidos. Com isso, resolvi que, indo em um dia quente, não teria mais este problema. Mas esta decisão foi uma faca de dois gumes: a parede estava perfeitamente seca e pronta para ser escalada. Porém, o calor proibitivo resultava em um banho de suor tão violento, que algumas gotas chegavam a escorrer pela rocha.


No dia 07 de abril, fomos eu, Laura e meu filho, João Pedro, chegando bem cedo ao parque. De todo modo, acabamos entrando apenas às 8h da manhã, quando o mesmo abre suas portas. A trilha foi vencida com relativa velocidade, apesar de termos parado mais vezes que o normal, para podermos secar o suor em nossos rostos e dar uma descansada eventual. De fato a trilha é bem simplória e às 8:15h já estávamos na base.


A trilha para este setor inicia em uma escada de cimento, à direita do portão de entrada do parque. Logo, esta escada dá lugar a uma trilha ampla e muito bem definida, que segue naturalmente até encontrar com a aresta nordeste do Perdido do Andaraí. Neste ponto, a trilha chega a uma calha de água (deve-se entrar nela e ir para a esquerda) que margeia a parede até encontrar o Contraforte. Há uma bifurcação na calha, que segue para a direita, que não deve ser tomada! Deve-se sempre seguir reto, subindo as escadas da calha.


Junior, na via "12 de Fevereiro", linha imediatamente à esquerda da nova "Enzima Desnaturada"
Junior, na via "12 de Fevereiro", linha imediatamente à esquerda da nova "Enzima Desnaturada"

Após colocar os equipamentos, me direcionei à base da via, cerca de 15 metros à direita da tradicional via "12 de Fevereiro" (já na canaleta que segue à direita, entre o contraforte e o Perdido do Andaraí) e iniciei a via em movimentos curtos, lentos e atentos às agarras que não inspiravam muita confiança. Uma via, quando conquistada, deve sempre ser encarada com todo carinho do mundo, pois é comum deparar-se com agarras quebradiças e lances um pouco sujos, por mais que se tente seguir uma linha mais estética e sólida. A via pode facilmente ser localizada, pois possui a primeira chapeleta relativamente baixa e de fácil visualização.


Em poucos minutos, já estava com 5 chapeletas posicionadas e cerca de 25 metros vencidos. Até então, os lances se apresentaram bem interessantes, e, à exceção da saída (crux da via), bem tranquilos. Neste ponto, a parede nitidamente ganha verticalidade e a minha corda já apresentava um arrasto significativo. Este fato, unido ao peso de todo equipamento que ia na cintura e o calor que não dava tréguas, resolvi dar uma descansada e aproveitei para puxar a Laura até a proteção imediatamente abaixo da minha posição. Enquanto isso, João Pedro cuidava da logística na base, com a organização das chapeletas sobressalentes, brocas e tudo mais.


Laura Petroni na conquista da "Enzima Desnaturada" (IVsup E1 - 50m)
Laura Petroni na conquista da "Enzima Desnaturada" (IVsup E1 - 50m)

Laura teve uma breve dificuldade na saída, mas logo "se encontrou" na via e rapidamente chegou ao ponto em que voltaria a me dar segurança. Neste momento, o relógio marcava 9:30h da manhã. Então, veio a indecisão: descer, ou prosseguir mais um pouco? Tínhamos encontro familiar marcado para as 11h da manhã, na Barra da Tijuca...


Com a maior cara de "cachorro pidão", implorei à Laura para armar minha segurança, para que eu subisse um lance mais. Imaginei que seria uma boa, para ganhar tempo na próxima investida. Além disso, já estava certo que os lances ficariam mais complexos, pela maior verticalidade da parede após esta parte, o que demandaria mais tempo. Entretanto, para minha surpresa, os lances foram saindo com tamanha naturalidade e velocidade, que, pouco a pouco fui subindo e posicionando novas proteções, para finalmente, às 10h da manhã, bater a parada dupla no final da via. Como estávamos com corda dupla, o rapel foi bem rápido e antes das 11h já estávamos a caminho do nosso compromisso (completamente imundos, mas dentro do horário).


Pedro Bugim na conquista da "Enzima Desnaturada" (IVsup E1 - 50m)
Pedro Bugim na conquista da "Enzima Desnaturada" (IVsup E1 - 50m)

A linha chega em uma barreira de vegetação, a qual não achei interessante transpassar. Assim, a via foi finalizada com 11 chapeletas e totalizou 50 metros. Apesar de ser relativamente curta, esta via ficou MUITO interessante e bem atrativa, pois não possui lances tecnicamente muito complexos e sua exposição é baixa.


A única parada dupla da via é a do final, sendo que a via inteira foi protegida em chapeletas PinGo (rapeláveis). O rapel pode ser feito com duas cordas de 50 metros (ou maiores) desde sua parada final, ou com corda única, sendo necessário rapelar de chapa simples. Outra opção para rapel com uma corda única, é realizar a primeira descida até a primeira parada dupla da via "12 de Fevereiro", distando cerca de 25 metros para baixo e à esquerda.


Agradecimentos à Liane Leobons, pelas ótimas fotos que fez, enquanto escalava a "12 de Fevereiro" com o Junior e Nereida (grata surpresa encontrá-los neste dia!). E à Laura e João Pedro, companhias do meu coração, que suportaram o calor insano durante a conquista da nomeada "Enzima Desnaturada" (IVsup E1 - 50m). Sim.... desnaturamos muitas enzimas durante a aventura!




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