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Manutenção da "Iemanjá" (4° Vsup E2/E3 D3 - 460m)

Atualizado: 25 de jun. de 2019

No seu aniversário de 40 anos, uma das vias mais clássicas e mais extensa do Pão de Açúcar recebe novíssimas proteções de Titânio!

Pedro Bugim na segunda investida para manutenção da "Iemanja"
Pedro Bugim na segunda investida para manutenção da "Iemanja"

Tendo sua investida final no ano de 1979, a "Iemanjá" foi conquistada pelo trio André Ilha, José Luiz Lozada e Renato Souto, representando a via mais extensa do Pão de Açúcar e, até hoje, um grande desafio para quem se aventura nela. São aproximadamente 460 metros de parede, sem contar com os 200 metros finais, em costões e gravatás (que de fácil não tem nada), com lances bastante bonitos, embora expostos em vários pontos.


Desde sua conquista, a via sofreu pouquíssimas intervenções, sendo a principal delas, a criação da variante "Don't Step on The Gravatá", uma linha conquistada pelo Julio Mello em 2009, que liga a P6 à P8, em lances relativamente simples, que evitam o traçado original, tomado pela vegetação.

P3 da "Iemanjá", com dois grampos de Titânio e um antigo grampo de aço carbono, na primeira investida
P3 da "Iemanjá", com dois grampos de Titânio e um antigo grampo de aço carbono, na primeira investida

Além desta intervenção, alguns poucos grampos foram trocados ao longo dos anos, sobretudo alguns grampos da sexta enfiada, onde se encontra o crux da via. Entretanto, a maioria esmagadora das proteções ainda datavam da conquista. Curiosamente, boa parte dos antigos (e poderosos) grampos de aço carbono ainda apresentavam ótima integridade. Mesmo assim, alguns deles já se encontravam em estado avançado de decomposição, indicando que sua vida útil estava no final.


Aproveitando a necessidade da troca de algumas proteções, além da onda de manutenções das suas vias para proteções em Titânio (TI), o André Ilha, conquistador da via, decidiu investir esforços (e dinheiro, muito dinheiro!) nesta empreitada. Realizou três investidas em sequência, as duas primeiras com sua digníssima, Tela (dias 11 e 30 de dezembro de 2018), e a terceira, com a Kika (dia 3 de fevereiro de 2019). As duas primeiras investidas renderam a criação dos furos até a P6, sendo a última investida feita para o restante dos furos, na parte superior da via. Isso deixou a via pronta para receber os poderosos grampos de TI.

Pedro Bugim com a pistola de cola, posicionando os grampos da quinta enfiada
Pedro Bugim com a pistola de cola, posicionando os grampos da quinta enfiada

Para quem não está habituado a este tipo de proteção, trata-se de grampos com formato em "P", fixados à rocha por meio de cola química (epóxi). Este processo demanda alguns itens volumosos, pesados e desconfortáveis de se trabalhar na vertical, mas proporcionam uma proteção de altíssima qualidade, não apenas na carga suportada em todos os sentidos que for acionado, como também na durabilidade (hoje em dia fala-se de, no mínimo, 50 anos).


No dia 31/03/2019, munidos de toda "trapizonga" necessária (furadeira, grampos, cola, pistola para a cola, bicos misturadores, panos de chão para limpar a cola etc etc etc), fomos eu e Laura para a primeira investida de fixação das proteções. Para nosso azar, escolhemos o que viria a ser um dos dias mais quentes do ano!


Já na trilha de acesso à base, percebemos que a água não seria suficiente. Já na primeira enfiada, em longa horizontal para a direita, os pés já estavam queimando. Aos trancos e barrancos, conseguimos chegar à P4. Neste ponto, decidimos voltar, fixando as proteções até este ponto. Assim sendo, eu descia na frente, abrindo os rapeis, limpando cuidadosamente os furos pré criados, posicionando com cuidado a cola, encaixando os grampos e fazendo o trabalho de limpeza final. Sim, colocar um grampo de TI dá um trabalho imenso! Mas o pior, foi ter que refazer a horizontal inicial, desescalando, e ainda ter que voltar a trilha... Neste dia, começamos os trabalhos por volta das 8:30h da manhã, voltando à pista Cláudio Coutinho por volta das 14:30h. 6 horas da mais pura ralação e insolação!

Laura Petroni, na P4 da "Iemanja", protegendo-se do sol
Laura Petroni, na P4 da "Iemanja", protegendo-se do sol

Depois do "espanco" que tomamos, decidimos voltar na temporada, com o clima mais ameno. A decisão não poderia ter se mostrado mais acertada. O dia escolhido foi o sábado, 22/06/2019. Um dia ensolarado, sem uma única nuvem no céu, mas com a temperatura amena e um ventinho agradável que soprou quase que ininterruptamente.


Desta vez, chegamos levemente mais cedo, começando a trilha por volta das 8h. O ritmo foi muito bom e em pouco tempo estávamos na base. Começamos escalando rápido, apesar do peso nas mochilas, sobretudo por conta da corda extra, levada para auxiliar nas enfiadas mais longas (para a troca dos grampos) e na quantidade de água que levamos (2 litros e meio cada um).


Pouco a pouco ganhamos altitude e por volta das 11h, eu já estava fixando os grampos da quinta enfiada, acima do ponto máximo atingido na primeira investida. Daí para cima, eligimos escalar mais devagar, curtindo os lances e aproveitando o visual. Por vários momentos, nem parecia ralação: estávamos de fato aproveitando o dia!

Laura Petroni na P7 da "Iemanja", Pão de Açúcar
Laura Petroni na P7 da "Iemanja", Pão de Açúcar

Às 14:30h, já estávamos na P10, com todos os grampos até este ponto fixados. Faltava apenas a última enfiada, a qual não possui grampos intermediários. Neste ponto, o André alterou um pouco a linha da via, saindo um pouco mais para a direita. Por estar acostumado a pegar a linha original, acabei indo para a esquerda, passando pelo antigo grampo da P11 (última proteção fia da via). Deste ponto, gastei um bom tempo procurando os furos da nova P11 feitos anteriormente pelo André, mas não os encontrei. Subi, desci, escalei, desescalei, passei por espinhos, varei gravatás. Nada. Por volta das 15:20h me dei por vencido e decidi encerrar os trabalhos por ali.


Como já havia passado - e muito! - do antigo grampo da P11, puxei a Laura com uma ancoragem precária em um pequeno arbusto, que parecia minimamente firme. Deste ponto em diante, não há mais proteções e os escaladores precisam subir no melhor estilo "intuição". Não há caminhos verdadeiramente demarcados, sendo um labirinto entre gravatás e alguns costões rochosos. Minha dica é: siga mirando os costões em diagonal para a a esquerda, mas sempre subindo. Este caminho segue na maioria do percurso por rocha limpa e pega menos lances de vegetação.

Laura Petroni chegando à P10 da "Iemanjá"
Laura Petroni chegando à P10 da "Iemanjá"

Nossa chegada ao cume se deu por volta das 16:30h, completando quase 9 horas de atividade intensa. Estávamos cansados, mas por incrível que pareça, bem menos do que na primeira investida. Infelizmente, a P11 ficou pendente e deverá ser "titanizada" em breve, assim como a retirada dos antigos grampos de aço carbono deverá ser feita com auxílio de uma esmeriladeira, em um futuro próximo. De todo modo, a via encontra-se devidamente manutenida, em melhores condições de ser repetida.


Alguns poucos lances sofreram alterações, feitas pelo próprio André Ilha, no intuito de melhorar o traçado, o arrasto da corda ou simplesmente, fugir de vegetação que não existia na época da conquista.


Agradecimentos ao André pela enorme disposição em preparar os furos de antemão, assim como pela cessão do material utilizado. E agradecimentos especiais à Laura, que mesmo sabendo a furada que vai se meter, me acompanha feliz e empolgada!!!


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