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Manutenção da Sudoeste do Alto Mourão

Atualizado: 29 de nov. de 2018

Reforma da maior via do mundo (atualmente) com proteção exclusivamente em grampos químicos de Titânio.

Laura na enfiada final da Sudoeste, com a praia de Itacoatiara ao fundo

Histórico da via

A Sudoeste do Alto Mourão é uma conquista datada de setembro de 1980, realizada pelos escaladores André Ilha, Tonico Magalhães, Dário dos Santos e Ricardo de Moraes, sendo a primeira via desta parede e uma das mais clássicas de Niterói. Com quase 500 metros (485 para ser exato), trata-se de uma linha graduada em 4° V E3 D3. Suas principais características, além da extensão, são os lances relativamente expostos e relativamente sujos, o que torna a escalada mais “apimentada”.

Conquistada originalmente sem paradas duplas e em grampos de aço carbono, esta via sofreu uma manutenção em determinado momento, recebendo grampos de aço Inox 304L e duplicação das proteções em todas as suas paradas.

Entretanto, descobriu-se que a fabricação destes grampos, com um processo de soldagem sem padronização e certificação pode causar corrosão intragranular, sem possibilidades de inspeção visual. Assim sendo, os conquistadores ainda em atividade decidiram por uma nova manutenção, trocando as proteções por grampos de Titânio, tidos como a melhor solução à nível de durabilidade e confiabilidade, principalmente nas condições salinas (à beira mar) encontradas na costa brasileira.


Proteções Utilizadas

Grampos confeccionados em titânio, pela “Titan Climb” (http://www.titanclimbing.com), com carga de ruptura de 35kN, posicionados com o uso de cola química RE-500 da marca Hilti (https://www.hilti.com.br/chumbadores-qu%C3%ADmicos-e-chumbadores-mec%C3%A2nicos/ancoragens-qu%C3%ADmicas-injet%C3%A1veis/r4929903).


Grampo de Titânio recém colocado na rocha, com a cola ainda por secar

Histórico da Manutenção

Em todas as investidas, a estratégia foi ir durante o verão, pois apesar do forte calor encontrado, a chance de repetições da via seriam mínimas, evitando a utilização das proteções antes do tempo de cura da cola. Além disso, o parque (PESET) foi comunicado e colaborou na informação aos escaladores que adentravam a trilha, nos dias de manutenção, indicando o bloqueio da linha para estes dias.


Primeira investida: 01/11/2014 - Pedro Bugim e Rafael Villaça

Na primeira investida, a estratégia foi vir de baixo, subindo até a terceira parada e fixando cordas pela parede. Após fixadas as cordas, rapelamos fazendo os furos para os novos grampos, arrancando as proteções antigas (de inox e aço carbono). Apenas um grampo de aço carbono foi mantido em cada parada, possibilitando a fixação da corda para que os trabalhos fossem realizados. Neste dia foram trocadas 16 proteções, nas três primeiras enfiadas.

Rafael Villaça, durante a primeira investida de 2014

Segunda investida: 08/10/2017 – Pedro Bugim e Laura Petroni

A segunda investida, também feita de baixo para cima, contou com a remoção dos grampos de aço inox e aço carbono desde a terceira parada até a sétima parada, assim como a perfuração dos buracos para os novos grampos de titânio. Como tivemos problemas com o blister da cola, tornou-se impossível posicionar os novos grampos neste dia.

As mazelas da troca de proteções...

Terceira investida: 12/10/2017 – Pedro Bugim e Laura Petroni

A terceira investida foi basicamente um complemento da segunda, na qual subimos por trilha até o cume do Alto Mourão e rapelamos a via inteira, posicionando os grampos de titânio desde a terceira até a sétima parada. Nesta investida, as três primeiras paradas também foram duplicadas. Entre a segunda e terceira investidas, foram manutenidos 23 grampos.


Quarta investida: 18/03/2018 – Pedro Bugim e Laura Petroni

A quarta investida, que deveria ter sido a última, para recuperar as duas últimas enfiadas, foi prejudicada por um novo problema com a pistola de cola. Mesmo assim, foi possível arrancar todos os grampos (exceto os grampos de parada) e preparar o furo para os grampos de titânio.


Quinta investida: 24/03/2018 - Pedro Bugim e Laura Petroni

A quinta enfiada foi necessária para posicionar os grampos de TI nas duas últimas enfiadas. Assim como na investida anterior, viemos pelo cume e deixamos as duas últimas enfiadas encordadas, para a realização do serviço. Como o tempo estava extremamente quente e estas enfiadas contam com boa parcela de vegetação e horizontais proeminentes, a finalização não foi tão simples quanto parecia. Nesta investida, foram trocados 11 grampos.


Parte dos grampos retirados da Sudoeste

Observações:

1) Os grampos retirados, em sua totalidade, ofereceram grande resistência para serem retirados, tanto os de aço inox, quanto os de aço carbono. Os que foram sacados inteiros (em geral, os de inox), demandaram um pequeno furo lateral para facilitar a retirada. Os de aço carbono, em sua maioria, necessitaram ser quebrados, o que se mostrou uma árdua tarefa, haja vista que estavam ainda em ótimo estado. Nenhum olhal foi arrancado, mesmo com muitas marretadas sobre os mesmos, o que indica que as soldas destes grampos estavam perfeitamente íntegras;

2) As paradas 4, 5 e 6, apesar de serem duplas, permanecem com apenas um grampo de titânio e outro de aço carbono, em perfeito estado. Há intenção de duplica-las com titânio no futuro. Há também uma parada tripla, na oitava parada, com dois grampos de titânio e um de aço carbono. Diferente das outras paradas anteriores, este grampo da P8 pode ser retirado por qualquer escalador que desejar fazê-lo, pois já existe a dupla com TI. Estes quatro grampos são os únicos remanescentes em aço carbono, e não foram retirados pela logística das investidas de manutenção.

3) Boa parte dos furos foram reaproveitados (quando os grampos foram sacados), evitando assim a poluição visual na rocha. Os furos que não reutilizados foram os que possuíam palhetas de alumínio (impossibilitam o aumento do furo) ou os que tiveram os grampos quebrados, ao invés de sacados.

4) As últimas proteções em titânio são os dois grampos de progressão da nona e última enfiada. A última parada que é utilizada atualmente ainda se encontra em grampos de aço carbono, por tratarem-se de grampos da via “Oswaldo Pereira”, batidos após a conquista da Face Sudoeste.


Parte dos grampos retirados da Sudoeste

Agradecimentos:

Aos amigos e conquistadores André Ilha e Tonico Magalhães, pela cessão dos 50 grampos utilizados na manutenção, bem como o empréstimo da pistola e blisters de cola. Ao Jhonatan do PESET, pela compreensão e colaboração por parte do parque, durante a manutenção. Ao amigo Rafael Villaça pela parceria na primeira investida, ainda em 2014, naquele dia ensolarado (e infernalmente quente) de verão. À namorada Laura Petroni, pela parceria nas quatro investidas subsequentes, abdicado do seu tempo e conforto em detrimento desta ralação!

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