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Três novas vias em Petrópolis

Com o advento do feriado prolongado, entre os dias 20 e 24 de abril, eu e Laura aproveitamos para fazer uma imersão nas paredes de Petrópolis, conquistando três belíssimas vias, em três montanhas diferentes.

Arthur Estevez, na conquista da "Teoria da Relatividade" (D2 4° Vsup E2 - 275m - Mista), no Morro do Careca
Arthurzinho, na conquista da "Teoria da Relatividade" (D2 4° Vsup E2 - 275m - Mista), no Morro do Careca

Após meses trabalhando exaustivamente, inclusive em vários finais de semana, eu e Laura caminhávamos para mais um feriado com poucas atividades, dentro de casa, na frente do computador. O que mais estava nos frustrando, sobretudo, era o fato do dia 23 ser aniversário da Laura, quando, em geral, tentamos fazer alguma excursão interessante. Foi então que, do nada, decidimos não ir muito longe, mas também, não deixar passar em branco, rumando para Petrópolis, ao Abrigo Cumes, do amigo Arthurtinho.


Trata-se de um abrigo de montanha, no qual é possível acampar, tendo toda a estrutura necessárias, como internet, banheiro, fogão, geladeira, utensilhos, churrasqueira e muito mais. Além disso, está localizado estrategicamente em Corrêas, próximo à entrada do PARNASO, rodeado de belíssimas montanhas e com muita natureza, trazendo a merecida paz de espírito que precisávamos.

Arthurzinho e Liz, na "Coelhinho da Páscoa", na Pedra Adelaide
Arthurzinho e Liz, na "Coelhinho da Páscoa", na Pedra Adelaide

Pegamos a estrada por volta das 7h da manhã da quinta feira, dia 20/04, com destino traçado para Areal, onde pretendíamos escalar na Pedra Adelaide, antes de ir para o abrigo. Fizemos esta escolha, pois o Arthurzinho comentou que escalaria por lá com sua filha Liz e a esposa Roberta, na via que conquistara uma semana antes, com o Erick e Adriana Coelho, a "Coelhinho da Páscoa".

Laura, nos metros finais da "Pedro Preju" (D1 3° IIIsup E2 - 205m)
Laura, nos metros finais da "Pedro Preju" (D1 3° IIIsup E2 - 205m)

A Pedra Adelaide possui várias bonitas vias, com uma característica interessante: apesar de alguns lances serem bem verticais, enormes agarras brotam de todos os cantos, tornando a escalada prazerosa e, de certa forma, fácil. Une-se a isso a incrível aderência proporcionada pela rocha e um acesso bem simples e rápido. Após estacionarmos o carro, levamos menos de 15 minutos até a base das vias, onde encontramos a Roberta já terminando a primeira enfiada.


Olhamos para a esquerda e vimos uma possível linha, na qual investimos os nossos esforços. Começamos a subir por volta das 10h, um pouco tarde para quem vai conquistar uma via, mas o tempo estava bastante agradável e a empolgação era grande. Como previsto, a cada passada, um mar de agarras surgia à frente, fazendo com que a primeira enfiada fosse conquistada em pouquíssimos minutos.


Tal qual a primeira, a segunda enfiada também foi vencida em pouco tempo, com uma grata surprersa: ao contrário do que parecia, a parede continuava após uma pequena barreira de vegetação, o que fez a linha ganhar mais duas enfiadas, completando assim 205 metros de via! Chegamos ao final da via exatamente às 11:45h, em um ponto que possibilita o acesso ao cume por caminhada, após pouco menos de duas horas de conquista.


O rapel foi feito de forma relativamente lenta, haja vista a necessidade de intermediar vários lances que estavam mais expostos, com a intenção de deixar a via bastante acessível, inclusive, com paradas duplas a cada 30 metros, permitindo o rapel com uma única corda. Batizamos a linha como "Paredão Pedro Preju" (3° IIIsup E2 - 205m), em alusão à carinhosa brincadeira do Arthurzinho, pelo gasto exacerbado em proteções, para as conquistas que fazemos. rs...

Traçado das vias na Pedra Adelaide - Areal - Petrópolis / RJ
Traçado das vias na Pedra Adelaide - Areal - Petrópolis / RJ

Croqui da "Pedro Preju" (D1 3° IIIsup E2 - 205m)
Croqui da "Pedro Preju" (D1 3° IIIsup E2 - 205m)

Após a conquista, fomos almoçar no centro de Corrêas e ainda tivemos a agradável companhia do André Ilha, sua esposa Tela e do amigo Lucas Teixeira. Para a parte da noite, tradicional roda de conversas no Abrigo Cumes, regada a cerveja e bons amigos!

"Almojanta" ilustre! Lucas, Pedro, Laura, André e Tela
"Almojanta" ilustre! Lucas, Pedro, Laura, André e Tela

Para o dia seguinte, eu e Laura decidimos investir em uma linha vista anos atrás, no Morro da Reunião, no bairro do Bonfim, bem próximo à entrada do parque. Trata-se de uma parede extensa, caracterizada por uma enorme barriga que a corta horizontalmente, representando, em geral, o lance mais complexo de todas as vias já existentes no local. Acordamos relativamente tarde, tomamos café e fomos sem grandes expectativas.

Pedro Bugim na conquista da "Tête-à-Tête" (D1 4° VI A0 E2 - 175m)
Pedro Bugim na conquista da "Tête-à-Tête" (D1 4° VI A0 E2 - 175m)

Após uma breve caminhada de acesso, chegamos na base por volta das 9:30h. De fato, a linha imaginada era bem promissora e tratamos de nos equipar o mais rápido possível. Iniciamos por um veio de cristais em diagonal para a esquerda, tornando a subir para um enorme platô à direita. Deste ponto em diante, existe a enorme barriga já mencionada, a qual foi minuciosamente estudada, na intenção de acharmos um ponto de menor resistência. Decidimos seguir pela direita, saindo de um platô de mato, aonde fez-se necessária uma única passada em artificial, para acessar outra cristaleira, bem delicada, dando continuidade à via.

Laura na segunda enfiada da "Tête-à-Tête" (D1 4° VI A0 E2 - 175m)
Laura na segunda enfiada da "Tête-à-Tête" (D1 4° VI A0 E2 - 175m)

A parte superior da via é um espetáculo! "Churreeiras", cristais, abaulados, aderência... vários estilos em uma única linha! Apesar de ter alguns lances mais trabalhosos, a escalada foi fluindo naturalmente e, por volta das 13h, já estávamos na parada dupla final, iniciando o rapel. Novamente, tivemos a preocupação em duplicar as paradas de 30 em 30 metros, permitindo que a via seja repetida com uma única corda de 60 metros. Decidimos batizá-la de "Tête-à-Tête", com graduação sugerida em D1 4° VI A0 E2 - 175m. Uma curiosidade (e coincidência), foi que a nossa primeira conquista nesta mesma parede (a "Rebimboca da Parafuseta"), havia sido há exatos 3 anos, no dia 21/04/2019!

Linha das vias no Morro da Reunião. Bonfim - Petrópolis / RJ
Linha das vias no Morro da Reunião. Bonfim - Petrópolis / RJ
Croqui da "Tête-à-Tête" (D1 4° VI A0 E2 - 175m)
Croqui da "Tête-à-Tête" (D1 4° VI A0 E2 - 175m)

O resto dia dia seguiu o script do dia anterior: almoço no centro de Corrêas, desta vez com a companhia do Arthurzinho e dos amigos Anabel e Marcelo, roda de conversas no Abrigo Cumes e uma ótima noite de sono em nossa barraca.


Apesar da vontade, não fomos escalar no dia 23. Por ser aniversário da Laura, sua irmã Debora foi nos visitar, com o marido Edu e os filhos Henrique e Antonio. Também apareceram por lá o tio da Laura, Celso e sua esposa, Ana Carla. Apesar de não termos ido para a montanha, o dia foi deliciosamente agradável. Fizemos churrasco, montamos barraca com as crianças, conversamos bastante e tomamos litros de cerveja. :-)

Churrasco em família, no aniversário da Laura
Churrasco em família, no aniversário da Laura

No último dia do feriado, convidamos o Arthurzinho a se juntar a nós, o que foi feito prontamente! Acordamos cedo, organizamos o equipamento e pegamos carona no trator... digo, no carro do Arthurzinho, em direção ao Morro do Careca (ou Morro Azul), em Araras. Trata-se de uma montanha belíssima, com paredões enormes e impressionantes, na qual já existiam três vias completas. A caminhada para a base não é das mais simples, demandando pouco menos de uma hora, em terreno bastante vertical em alguns pontos. Com o peso do equipamento de conquista nas costas, acabamos sofrendo um pouco nesta parte, ainda mais, por conta do sol que fazia.

Pedro Bugim, na conquista da "Teoria da Relatividade" (D2 4° Vsup E2 - 275m - Mista), no Morro do Careca
Pedro Bugim, na conquista da "Teoria da Relatividade" (D2 4° Vsup E2 - 275m - Mista), no Morro do Careca

Selecionamos uma linha que o Arthurzinho já namorava há algum tempo, iniciada em uma belíssima fenda frontal, evoluindo para um diedro e, na sequência, para uma canaleta, até atingir a P1. Esta enfiada, vencida pelo Arthur, além de concentrar os lances em móvel da via, possui também o crux da mesma, graduado em 5°sup, no lance de transição entre o diedro e a canaleta.


A enfiada seguinte foi de minha reponsabilidade, com mais 60 metros de extensão e lances bem constantes, de 4° e 4°sup, com uma passada mais delicada ao final, que deu algo entre 5°sup e 6° grau, mas que resolvemos alterar para uma linha mais à esquerda, deixando os lances mais fluidos - e menos complexos.

Pedro e Arthur, na conquista da "Teoria da Relatividade" (D2 4° Vsup E2 - 275m - Mista), no Morro do Careca
Pedro e Arthur, na conquista da "Teoria da Relatividade" (D2 4° Vsup E2 - 275m - Mista), no Morro do Careca

Para as enfiadas seguintes, fomos revezando a ponta da corda, sempre procupados com o horário, com as nossas energias que estavam se esgotando rapidamente (vínhamos de uma seuquência de conquistas) e com as vias da parede, para que não interferíssemos em nenhuma delas.


Chegando ao headwall, tínhamos a impressão de um terreno complexo pela frente, mas ao contrário da expectativa, ele estava repleto de boas agarras, apesar da forte inclinação. Os lances ficaram espetaculares e apenas alguns lances foram de fato mais difícieis, na casa do 5° grau.

Arthur e Pedro, na conquista da "Teoria da Relatividade" (D2 4° Vsup E2 - 275m - Mista), no Morro do Careca
Arthur e Pedro, na conquista da "Teoria da Relatividade" (D2 4° Vsup E2 - 275m - Mista), no Morro do Careca

Aos poucos, a via foi saindo e, mesmo com o horário avançado, chegamos ao seu final, juntando com a enfiada final da via "Face Leste", bem próximo ao cume. Ufa! Essa deu trabalho, mas ficou simplesmente linda! O rapel foi feito da forma mais célere possível e às 17:30h estávamos todos na base. A trilha de retorno já foi feita no escuro e pouco após as 18h, estávamos de volta ao carro. Foram aproximadamente 10 horas de atividade intensa, mas com um resultado sensacional. Batizamos a via de "Teoria da Relatividade", graduada em D2 4° Vsup E2/E3 - 275m - Mista.

O trio, na conquista da "Teoria da Relatividade" (D2 4° Vsup E2 - 275m - Mista), no Morro do Careca
O trio, na conquista da "Teoria da Relatividade" (D2 4° Vsup E2 - 275m - Mista), no Morro do Careca

Acabamos chegando tão detonados no abrigo, que as intenções de retornar ao Rio de Janeiro ficaram para a segunda feira de manhã, o que foi uma ótima escolha, já que pudemos passar mais uma noite naquele pedacinho do paraíso, além de conseguirmos fazer algumas fotos no Morro do Careca antes da viagem de retorno, para o desenho do traçado da via!

Linha das vias no Morro do Careca
Linha das vias no Morro do Careca
Croqui da "Teoria da Relatividade" (D2 4° Vsup E2 - 275m - Mista)
Croqui da "Teoria da Relatividade" (D2 4° Vsup E2 - 275m - Mista)

Agradecimentos ao Arthurzinho, pela tradicional (e incrível) receptividade, além da ótima companhia na última conquista. E à Laura, por toda a parceria e por todas as superações... além de não me matar após o preju de exatas 100 chapeletas usadas neste feriado!


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