Mais uma bela via no Vale dos Frades, conquistada em uma única tarde, com a chuva que teimava em cair ao longo do dia...
A ideia inicial era subir para Teresópolis ainda na sexta feira, mas o mal tempo e a preguiça nos fizeram repensar o planejamento e decidimos zarpar apenas no sábado de manhã.
Saímos do Rio de Janeiro debaixo de uma leve garoa, com o tempo completamente fechado e sem muitas esperanças de conseguirmos escalar. Com este cenário, não nos preocupamos muito com o horário, gastando inclusive um bom (e agradável) tempo na casa do Renan, em Albuquerque, onde fomos pegar umas chapas que comprei com ele.
Quando decidimos rumar para o Vale dos Frades, o relógio já apontava 11h da manhã.
No meio do caminho, tivemos a grata surpresa de encontrar os amigos Alexandre Ciâncio, Rafael Damiati e Vitor, que haviam tentado a "Mario Arnaud", no Morro dos Cabritos, mas retornaram da segunda enfiada, pois a parede estava molhada. É claro que esta informação nos desanimou ainda mais, pois a chance do nosso objetivo também estar "babado" era enorme. Mesmo assim, não apenas continuamos no mesmo rumo, como também, convencemos os três a se juntarem a nós!
Poucos minutos depois já estávamos na entrada do pasto que leva à base da via "Fúria Bovina", conquistada há duas semanas, por mim, Laura e João Pedro. Da estrada, aparentemente a parede parecia levemente úmida, porém, com possibilidade de ser escalada. A trilha para a base levou meros 15 minutos e às 12:10h, já estávamos todos nos equipando.
Ciâncio, Rafael e Vitor resolveram encarar a primeira repetição da "Fúria Bovina". Eu e Laura focamos em uma óbvia linha mais à esquerda, aparentemente mais complexa que a sua vizinha. Iniciamos nossa conquista às 12:50h.
A saída já apresentou um lance que deu um pouco de trabalho para ser vencido, com certa verticalidade e pequenas agarras. Depois disso, a via perde um pouco de inclinação, da mesma forma que perde completamente as agarras! Aderência total, porém, com uma rocha perfeita para tal. 55 metros após, chega-se à primeira parada.
Deste ponto em diante, na próxima enfiada, estão concentrados os lances mais técnicos e delicados. Trata-se de um esticão curto, de 30 metros, com proteção constante (padrão E1), com lances entre V e VIIa.
Ao finalizar a conquista da segunda enfiada, a chuva resolveu dar o ar da graça. Dúvida: descer ou persistir?! Por sorte, decidimos encarar o que ainda estava por vir e Laura rapidamente se juntou a mim na segunda parada da via, sob respingos ameaçadores.
Percebi que teríamos que ser rápidos para finalizar o projeto no mesmo dia, sem a interferência da rocha molhada. Deste modo, conquistei a terceira enfiada, com 60 metros, batendo apenas uma chapeleta intermediária. Estabeleci a P3 com menos de 5 minutos após ter saído da P2! Sorte que esses lances não representaram nenhum desafio maior, com passadas tranquilas de no máximo IIIsup (apesar de ligeiramente molhados em determinados pontos).
A quarta enfiada também saiu facilmente, com duas proteções intermediárias em 40 metros, com graduação máxima de IV. Neste momento, a chuva havia dado uma pequena trégua, o que nos reconfortou bastante. A última parada se localiza imediatamente antes da barreira de vegetação que leva à crista da montanha. Aparentemente, é possível seguir caminhando até o cume por este caminho, mas com o avançar da hora e com o tempo duvidoso, resolvemos dar os trabalhos como encerrados.
O rapel foi feito em poucos minutos, haja vista que estávamos com corda dupla. E durante este processo, aproveitei para intermediar os lances mais expostos, sobretudo da terceira enfiada. Com isso, a via segue um padrão E2, com alguns lances levemente mais expostos (nos lances de 2º grau) e lances melhor protegidos, em padrão E1, quando a graduação supera o 5º grau.
15:50h estávamos eu e Laura de volta à base, indicando que a conquista desta bela via, com 185 metros de extensão e 29 proteções fixas durou apenas 3 horas! Talvez a chuva não tenha sido tão maléfica assim, pois foi primordial para a agilidade nos procedimentos.
Neste momento, o trio que entrara na "Fúria Bovina" já estava longe, pois decidiram descer da P1. Mas foi realizador ouvir os elogios sobre a nova via! Volto a afirmar que esta parede possui um potencial incrível, e não entendo como até recentemente não havia uma única linha conquistada nesta parte do vale.
O nome da via?! Bom, recomendo ler a matéria sobre a conquista da "Fúria Bovina". Digamos que... a queda no buraco próximo à base que tive duas semanas antes, não foi o suficiente. Nesta conquista descobrimos que há algo que puxa qualquer objeto com massa para o centro da terra, como as duas brocas e um gatorade que caíram durante a conquista, em momentos inoportunos...
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