Conquista da "Dissonância Cognitiva", a primeira via de escaladas de Carvalhos / MG
- Pedro Bugim
- 2 de mai.
- 5 min de leitura
Para o carnaval de 2023, uma vez mais recebemos convite do nosso querido amigo Waldecy, com quem criamos a tradição de viajar durante este feriado, nos proporcionando novamente uma aventura inesquecível.

Como de costume para mim e para Laura, o carnaval não é sinônimo de blocos e bagunça, mas sim, de viagens para os cantos mais isolados possíveis, aproveitando o feriadão para conhecermos novos lugares, pessoas e montanhas. Não seria diferente em 2023, quando fomos convidados pelo Wal a compor o grupo formado por mim, minha esposa Laura, meu filho João Pedro, sua amiga Mariana Maia, o próprio Wal, o casal Michelle e Rodrigo Carreira e o gringo do grupo, o Hernando. O destino seria a cidade de Carvalhos, interior de Minas Gerais, distando cerca de 270Km do Rio de Janeiro, em uma viagem de pouco mais de 4 horas de carro.
Saímos do Rio de Janeiro no dia 18 de fevereiro, por volta das 7:30h da manhã, com destino a Passa Vinte / MG, onde, antes de irmos para Carvalhos, tentaríamos o cume da Pedra Lisa, uma bonita montanha da região e local definido como ponto de encontro entre os participantes. São 200Km de estradas até este ponto, feitos em 3 horas e meia, na maioria das vezes em terreno muito bom, porém, com alguns trechos bastante esburacados, o que requer certa atenção ao volante.

A subida ao ponto onde a trilha da Pedra Lisa se inicia, representa o ponto mais crítico, sendo em estrada de terra, bem acidentada, sendo desejável a subida com um carro 4x4. Ainda mais na situação que nos encontrávamos, haja vista o tempo estar bem fechado e com muita chuva nos dias anteriores.

Iniciamos a caminhada exatamente às 11:45h, percebendo que a missão não seria simples: havia lama por todo o lado, fazendo com que, por vezes, afundássemos os pés até a canela, não apenas "cagando" tudo, como também, dificultando a passagem em vários pontos. Por volta das 12:30h, quando já estávamos na crista do cume, fomos surpreendidos com uma chuva torrencial, seguida de muitos relâmpagos, o que nos fez dar meia volta imediatamente, apesar de bem próximos ao objetivo. De todo modo, a atividade foi muito divertida e todos encararam como apenas um "aperitivo" para o que ainda estava por vir nos próximos dias.
De Passa Vinte, foram mais 85Km de estrada até Carvalhos, não sem antes pararmos em Santa Rita de Jacutinga, para um almoço espetacular, com comida caseira mineira no restaurante Cantinho do Sabor. Com todo o esforço feito na trilha sob chuva, encontrar este restaurante foi uma senhora vitória.

Em Carvalhos, nos estabelecemos na charmosa Pousada Pico do Muquém, que possui uma infraestrutura muito boa, com quartos bem organizados, piscina, sauna, churrasqueira, café da manhã espetacular e outras comodidades mais. Trata-se de uma pousada localizada muito próximo ao centro da cidade e do comércio em geral, o que facilitou muito a nossa vida. Na pousada, se juntaram a nós a Michelle e o Carreira, que não haviam participado da aventura inicial, à Pedra Lisa.
Na noite do dia 18, aproveitamos toda a ótima energia do carnaval local, na praça principal da cidade, comendo pizza, tomando cerveja e interagindo com os divertidos foliões dançantes, no meio da rua, para finalmente dormirmos pouco antes da meia noite, em nossa aconchegante pousada.

O dia 19 começou cedo. Às 8h já estávamos devidamente alimentados, após um café da manhã espetacular, na própria pousada. Organizamos os equipamentos e rumamos ao Pico do Muquém, montanha emblemática da cidade, sendo o seu ponto culminante, com 1.696 metros de altitude. O acesso ao cume pode ser feito por uma trilha moderada, com cerca de 3 horas de duração e muito "toca pra cima", sobretudo na partte final. O cume propriamente dito, é acessado por uma via "ferrata", que segue por uma espécie de canaleta bem vertical, possuindo degraus de ferro em diversos pontos.
Começamos a caminhar por volta das 9:15h, atingindo o colo final da montanha às 11h, aonde fizemos uma breve pausa para nos hidratarmos, comermos algo e nos equiparmos. Neste ponto, nos dividimos em dois grupos: eu e Laura (que iríamos conquistar uma via) e Wal, Hernando, Michelle, Carreira, João Pedro e Mari, que iriam fazer a via normal de acesso ao cume.

Eu e Laura escolhemos uma linha muito interessante, que segue a face rochosa à esquerda da via "ferrata", sendo um trajeto relativamente curto, porém limpo e visivelmente com bonitos lances. Começamos a conquistar por volta das 11:20h, passando por lances predominantemente em agarras, regletes e aderência, em uma rocha sólida e de grande abrasão.
Apesar de ser uma via de 50 metros, com apenas uma enfiada, decidimos dividi-la em duas partes, durante a conquista. A primeira é feita totalmente em proteções fixas, com lances constantes desde o início, representando o crux da via. Aos 30 metros, encontrei um bom platô, no qual posicionei uma parada dupla e puxei a Laura, que veio até mim de forma rápida e sem problemas.

A segunda parte da via muda um pouco de característica, passando por um pequeno trecho de vegetação e entrando em uma bonita e contínua fenda frontal, totalmente protegida em móvel, com friends pequenos e médios, até atingir o topo da montanha, local onde posicionei a segunda parada dupla (e final) da via. Todas as proteções fixas foram em chapeletas PinGo inox 304L e com as duas paradas duplas, pode-se rapelar tranquilamente com uma única corda de 60m.

Ao chegarmos no cume, às 12:30h, o primeiro grupo já havia iniciado a descida, já que a subida pela rota normal acabou sendo (obviamente) mais rápida do que a nossa conquista, embora tenhamos a feito em apenas pouco mais de uma hora. Após as tradicionais fotos de cume, rapelamos rapidamente e em pouco tempo, já estávamos junto do grupo descendo a trilha, chegando de volta aos carros por volta das 14:30h. Atividade sensacional, com pessoas incríveis, em uma montanha espetacular e com uma nova e bonita via (a primeira via técnica de escalada da cidade de Carvalhos)!
A parte da tarde deste mesmo dia foi reservada para nos alimentarmos bem, "regarregarmos as baterias" e voltarmos com toda a energia do mundo para a noite de carnaval no centro da cidade, que desta vez, teve até desfile de escola de samba!

O dia seguinte, dia 20 de fevereiro, foi o mais leve de todos. Acordamos tarde, tomamos café e fizemos a única atividade do dia, indo conhecer a belíssima Cachoeira da Estiva, que além de possuir um ótimo barzinho / restaurante, possui um poço muito agradável para se banhar. No dia 21, nosso último dia de viagem, resolvemos seguir um roteiro semelhante, conhecendo outras cachoeiras, como a Cachoira do Paiol e a Cachoeira dos Franceses, ambas com um pouco de trilha para acessar. O final da viagem ainda contou com a visita ao alambique da Cachaça Cafundó! Simplesmente espetacular!

Voltamos para o Rio de Janeiro na manhã do dia 22, com a bela sensação de missão cumprida, cheios de história para contar e com um enorme gostinho de "quero mais".... Agradecimentos a todos os presentes na excursão, pelos momentos inesquecíveis! :-)

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