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Parede dos Enfermos - Parque Estadual do Grajaú

Nova opção "light" de escaladas em um dos parques mais emblemáticos da cidade do Rio de Janeiro!

Os conquistadores do Pico do Itabira, em seu cume, no ano de 1947
Laura Petroni na "Síndrome do Túnel do Carpo" (IV E1 - 22m)

Há anos, todas as vezes em que eu ia escalar no Contraforte do Perdido do Andaraí, ao passar pela famosa "escada / canaleta" que corta a face Leste do Perdido, ficava olhando para a pequena parede que costeamos no trajeto. O que mais me chamava a atenção, era o fato de ser completamente desprovida de vegetação, além de ser muito "limpa" em termos de musgos e líquens. Com o passar do tempo, acabei investindo em várias outras vias de maior "calibre", no próprio Perdido do Andaraí (veja aqui e aqui) e esta parede foi caindo no esquecimento.


Eis que, ao final de 2018, tive uma fortíssima inflamação dos tendões extensores dos músculos do antebraço, mais conhecida como "epicondilite", o que me fez escalar bem menos do que eu gostaria. Nesta mesma época, conversando com a Jana Menezes, em uma animada quinta feira à noite, no CERJ, descobri que ela também vinha se recuperando de uma neuropatia resultante da compressão do nervo mediano no canal do carpo, ou, "síndrome do túnel do carpo".

Jana Menezes iniciando a conquista da "Síndrome do Túnel do Carpo" (IIIsup E1 - 20m)
Jana Menezes iniciando a conquista da "Síndrome do Túnel do Carpo" (IIIsup E1 - 20m)

Conversa vai, conversa vem, com ambos sedentos por alguma escalada, mas sem poder fazer nada muito bruto, me veio à memória aquela singela parede no Grajaú. Outro ponto favorável à decisão, além do meu enorme carinho para com a região, foi o fato da Jana já ter conquistado uma bonita via bem próximo dalí, no Contraforte, a "Nó em Pingo D´água", de 1999. Assim, selamos nosso compromisso de irmos juntos nesta empreitada.


Fato é que nossa recuperação demorou um pouco mais do que esperávamos, fazendo com que a atividade só acontecesse em meados de 2019. Mas como diz o ditado, antes tarde do que nunca! Com isso, no dia 20/06/2019 seguimos eu, Jana e Laura para o ataque ao nosso alvo, munidos de muita animação e de poderosos grampos de 1/2 polegada, em aço carbono, gentilmente cedidos pela própria Jana.

Pedro, Jana e Laura, na base da Parede dos Enfermos, na primeira investida
Pedro, Jana e Laura, na base da Parede dos Enfermos, na primeira investida

A caminhada tem início na entrada do Parque Estadual do Grajaú, seguindo a trilha muito bem definida que leva ao cume do Perdido do Andaraí. Com pouco menos de 10 minutos, chega-se à encruzilhada na canaleta de concreto, que bifurca em direção ao cume, ou ao Contraforte do Perdido. Pegamos a segunda opção e, pouquíssimos metros adiante, já estávamos na base. O dia estava incrivelmente limpo e, apesar de estar no meio do ano, fazia um forte calor. O que ajudou - e muito -, foi o fato da base ficar o dia inteiro na sombra, por conta da densa vegetação lateral.


Iniciei os trabalhos pela linha mais à esquerda, a qual apresentou uma saída um pouco mais complexa do que eu imaginava, em pequenas agarras e um pouco de aderência. Pelo menos, como observado anteriormente, a rocha de fato é bem limpa e, diferente de muitas vias na região, bem sólida. A cada metro vencido, a parede ia perdendo verticalidade, além de ganhar umas cristaleiras muito bonitas e gostosas de serem escaladas. As proteções foram sendo posicionadas de forma generosa, tornando a exposição pequena, além da via receber uma confortável parada dupla em seu final.

Localização da Parede dos Enfermos - Perdido do Andaraí - Grajaú
Localização da Parede dos Enfermos - Perdido do Andaraí - Grajaú

Jana e Laura repetiram esta primeira via, mas o dia estava longe de acabar. Jana se animou, pegou a ponta da corda, a furadeira e grampos, e iniciou a segunda conquista do dia. Após alguns metros, por conta do forte calor que fazia, preferiu revezar, deixando a parte final para mim. Novamente, nos preocupamos em deixar uma baixa exposição e em colocar parada dupla no topo.


Ainda havia o resto do projeto para fechar com chave de ouro, em duas linhas mais à direita. Mas como o calor estava nos castigando de verdade, além de estarmos ainda sentindo as sequelas das lesões em recuperação, decidimos dar o dia por encerrado. Como não poderia deixar de ser, as vias foram carinhosamente nomeadas de "Epicondilite" (IV E1 - 22m) e "Síndrome do Túnel do Carpo" (IIIsup E1 - 20m), sendo o setor apelidado de "Parede dos Enfermos", por motivos óbvios.

João Pedro Vergnano na "Ressonância Magnética" (IV E1 - 20m)
João Pedro Vergnano na "Ressonância Magnética" (IV E1 - 20m)

Veio a pandemia, os projetos mudaram, a vida mudou. Passaram-se mais de dois anos, até que finalmente houvesse uma "brecha" para encerrar o projeto. Desta vez, fomos eu, Laura e meu filho, João Pedro, no dia 14/11/2021. Apesar de estarmos em uma época teoricamente mais quente, pegamos um dia igualmente lindo, entretanto, muito agradável, mesmo tendo chegado à base apenas por volta das 9:30h da manhã.


Nesta segunda investida, usamos chapeletas PinGo (rapeláveis), também com paradas duplas independentes para cada linha conquistada. Foram elas a "Ressonância Magnética" (IVsup E1 - 20m) e a "Ligamento Colateral" (IV E1 - 25m). Ambas possuem as mesmas características das duas conquistas anteriores: um início mais delicado, em pequenas agarras, evoluindo para cristaleiras e um pouco de aderência mais fácil, até atingir a parada do topo.

Pedro Bugim na conquista da "Epicondilite" (IV E1 - 22m)
Pedro Bugim na conquista da "Epicondilite" (IV E1 - 22m)

Todas as quatro vias permitem a montagem de top rope e/ou a saída por cima, caminhando, através do enorme platô que chega na base da via DGM (seguindo para a direita do platô). As paradas duplas estão relativamente longe do platô, para inibir o uso destas vias por praticantes de rapel, entretanto, os lances são fáceis e o escape por cima pode ser realizado sem grandes problemas (apesar do rapel acabar sendo mais rápido e prático).


Inclusive, um dos principais motivos da abertura deste setor era justamente criar um "campo escola" semelhante ao que há na parte baixa do parque, com acesso fácil, base confortável, vias curtas, bem protegidas e de baixa graduação, para que os treinamentos ou escaladas mais "lights" pudessem ser realizadas sem a interferência do universo de pessoas que passou a utilizar o campo escola do Grajaú exclusivamente para rapel, treinamentos de resgate etc. Não sou contra este tipo de utilização e acredito que todos temos o mesmo direito de usufruir das áreas naturais. Entretanto, com o passar do tempo, fica nítido que a parte baixa não reflete mais aquela escaladinha "light", sem pegar congestionamento. Portanto, espero que este novo setor supra esta lacuna.

Pedro, Laura e João, na base da Parede dos Enfermos, na segunda investida
Pedro, Laura e João, na base da Parede dos Enfermos, na segunda investida

No mais, só tenho a agradecer à Jana, Laura e João Pedro, pela parceria nestas duas incríveis e divertidíssimas investidas!



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